quinta-feira, 15 de março de 2007

Corvo. No limiar da civilização.


(Foto: Ruben Farias)

Caros leitores, apresento-vos o Corvo. Para aqueles que nunca tiveram a oportunidade de visitar a ilha mais pequena do nosso arquipélago, vou tentar descrevê-la, através do relato, muito sussinto, da minha viagem a esta ilha. Na foto podemos ver toda a ilha, e o casario á esquerda junto ao mar é a tão nobre Vila do Corvo. Atracamos no porto, subimos uma rampa muito inclinada e encontramos um pequeno bar (não me consigo lembrar do nome), á nossa direita. Entraram, ao mesmo tempo, cerca de dezoito pessoas. Parecem poucas, mas foram as suficientes para o Mokamar ir ajudar o proprietário a tirar cafés (boa gente, o proprietário). Aqui começamos a perceber que realmente o tempo parou nesta ilha. Pedi ao dono um "capucino" e ele respondeu "Hã?! Um quê?", depois pedi um "panachê" e a resposta foi a mesma. Bom, não ficamos por aqui e, depois dos cafés e panachês, fomos à descoberta da ilha. Uma pequena montanha estava à nossa frente e queríamos conhecer o Caldeirão. Compramos o nosso bilhete (ou seja, entregamos o dinheiro ao condutor) para a viagem na única viatura de nove lugares na ilha e lá fomos. Chegamos ao objectivo (o Miradouro do Caldeirão) em 12 minutos, a cerca de 50 km/h. A minha perspectiva é a de um açoriano, ou seja, homem habituado ao verde e ao mar, e não me deslumbrei com o famoso Caldeirão. Melhor, com a a Lagoa do Caldeirão. É uma cratera que quando o nível da agua sobe, põe em evidência nove montinhos, e claro, nós portugueses quase que juramos que é a representação dos Açores, ou melhor, das nove ilhas. Nada disso, são só nove "montinhos". Tiramos fotos e regressamos. O gentil condutor lá foi conversando connosco, parou noutro miradouro no regresso e tiramos alguma fotos. Continuamos a nossa aventura e três minutos depois já estávamos a percorrer o "labirinto de ruas", que é a Vila do Corvo. Perceberam a piada, porque só existente meia dúzia de ruas, claro. Então o nosso anfitrião, o condutor, senhor Manuel, fez questão de passar em frente do seu restaurante (só existem dois) e sendo já 11:30 AM perguntei o que aconselhava para o almoço, ao que me respondeu "Pois é, temos peixe fresco, mas têm de se despachar, porque fechamos para almoço. Do meio-dia às cinco". Várias gargalhadas queriam-se soltar, mas foram contidas. "Porque será que é um restaurante, se está fechado para almoço?" pensamos. Estas situações, para quem já vive num bocadinho de civilização, como São Miguel, e tem a Cabo TV com o Discovery Chanell, são de facto no mínimo caricatas. Aliás, até custa a acreditar. No entanto percebesse, pelo dia a dia desta comunidade, que a paz aqui vivida é de fazer inveja. Reparem: a bomba de gasolina só abre uma hora por dia (das dezoito às dezanove), só exercem funções dois agentes da autoridade (GNR), vi carros a circular sem matricula, não é preciso usar capacete para andar de moto, o porto não tem lixo nem gasóleo no mar e toda a gente se conhece. Procurei no dicionário Corvino uma palavra mas não encontrei. Stress. O Corvo, deve ser um dos poucos locais em que o elemento atrás descrito (Stress) não está presente. Continuando...Almoçamos no outro restaurante em que a ementa era galinha no churrasco, churrasco de galinha e para quem não quisesse podia voltar à primeira forma, galinha no churrasco. Despedimo-nos da ilha com uma espera de cerca de cinquenta minutos ao sol, porque não há uma "sombrinha" pública. Parecia uma eternidade. Passamos parte deste tempo a observar a embarcação, que faz o transporte de bens entre as Flores e o Corvo, a descarregar mercadorias para os locais. Curiosidade é que, informaram-nos que toda aquela mercadoria era para uma mês, e estranhei as quinze caixas de cerveja. "Pois é, aqui vão dar para um mês. Na minha terra, se calhar, não dá para um quarto de hora, se contabilizarmos todos os cafés" pensei. Em jeito de conclusão a ilha tem uma paisagem bonita e a visita vale pelo contacto com uma comunidade que "se move" a uma velocidade a que já não estamos habituados. Aconselho a viagem, mas cuidado, mais do que vinte e quatro horas consecutivas nesta ilha podem causar graves danos de foro psicológico, bem como, alterar para sempre os níveis individuais de ansiedade. Claro que estou brincando, até porque as visitas à ilha demoram cerca de quatro horas e, diga-se de passagem, é tempo mais que suficiente para conhecermos a Ilha do Corvo.



5 comentários:

Carlos Estrela disse...

Ainda não conheço a ilha do Corvo. No entanto, a tua descrição faz-nos ver, de relance, os primórdios do desenvolvimento económico e social das cidades mais desenvolvidas do nosso arquipélago. A mudança social, nalguns casos, foi evolutiva. Noutros imposta. No caso do Corvo, o quotidiano da sua população é ditado, principalmente, pelos condicionalismos geográficos, até porque, em termos de novas tecnologias de informação, estão bem equipados(investimento público). Agora pergunto, se em S. Miguel, o que cada vez mais procuramos é paz e descanso sendo que, para tal, recorremos à placidez do concelho de Nordeste(por exemplo), nas ilhas mais pequenas, não estarão os seus habitantes sempre "no Nordeste"? A grande diferença é que nós procuramos sossego e tranquilidade para nos demarcarmos do stress, enquanto que, os muitos corvinos, querem "abandonar" a sua ilha em busca de confusão e ritmos acelerados de "civilização", para fugirem à pacatez dos seus dias.
Conclusão: está tudo invertido!
Abraço

Ruben Farias disse...

Pois é, amigo Carlos, por acaso, lembro-me agora, que recebi uma chamada tua, neste dia, e qual não foi o teu espanto quando disse "Estou a almoçar no Corvo". Vou aproveitar o teu comentário para frisar que nós muitas vezes não atribuimos o devido valor ao nosso pequeno "Eden", São Miguel. É que, podemos aproveitar a "cidade" para "sacudir" a paz e dar uma volta pelo Nordeste para tranquilizar, como diria o Paulo Bento, "Tranquilidade...". Com certeza que noutras ilhas se aplica o presente raciocínio, mas, nós estamos na vanguarda do urbanismo, nos Açores, quanto mais não seja porque já temos MacDonald's...Eh, Eh!
Abraço Carlos, e os teus comentários são sempre bem vindos.

Anónimo disse...

Olá Ruben.
Sabes que estou na Semana do Corvo no meu Blog?
Abraço
sacouto.blogspot.com

Anónimo disse...

1ª O Corvo não se conhece em 4 horas!;
2ª Existem umas 33 ruas no Corvo e não "meia dúzia";
3ª Foi mal informado quanto ás mercadorias, uma vez que o barco de carga vai lá 2 vezes por semana;
4ªExistem mais que uma carrinha de 9 lugares no Corvo;
5ªO restaurante não fecha para almoço!;

Corvino

Anónimo disse...

ler todo o blog, muito bom